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Precisamos falar sobre o São João de São Luis do Maranhão!

A tão sonhada volta ao Maranhão não foi planejada para acontecer em junho de 2023 ao acaso. Pelo contrário: fiz de tudo pra que pudesse estar no Nordeste em pleno mês junino! Muito se fala sobre o São João de Caruaru e Campina Grande e os shows dos polos culturais das cidades que ficam em Pernambuco e Paraíba, respectivamente, mas a festa que acontece em São Luis merece o devido reconhecimento pela beleza, grandiosidade e, principalmente, por manter tão viva as suas raízes culturais únicas!

Como é a tradição do bumba meu boi do Maranhão? 

Na capital maranhense são mais de 60 dias de festa! Durante os arraiás, espalhados por mais de dez pontos da cidade, se apresentam diversos grupos culturais maranhenses, como grupos de bumba meu boi e tambores de crioula. O bumba meu boi, inclusive, foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade!

Em cada região do estado, criou-se uma expressão cultural diferente pro bumba meu boi: matraca, zabumba, orquestra, costa-de-mão e baixada. E, em cada uma, as roupas utilizadas, os instrumentos musicais, os cantos e danças se diferenciam entre si.

Saiba mais:

Tudo começou com a representação da lenda da história do casal Pai Francisco e Mãe Catirina. Catirina estava grávida e teve desejo de comer língua de boi. Só que, além do desejo incomum, Catirina ainda fazia questão que o marido matasse o boi mais bonito do senhor da fazenda onde viviam.

Depois que o marido atendeu o desejo da esposa e o dono da fazenda notou a morte do animal, ele convocou curandeiros e pajés para ressuscitá-lo. O boi voltou à vida e toda comunidade o celebrou com uma grande festa. Francisco e Catirina receberam o perdão do dono do boi.

Já em Parintis, no Amazonas, onde existem os grupos do boi Caprichoso e Garantido, a festa é do Boi Bumbá: a principal diferença é que, por lá, as apresentações ganharam um cunho de competição. No Maranhão, não: as apresentações seguem somente o viés artístico e cultural.

Decoração de bandeirinhas do São João do Maranhão

Se não bastasse essa riqueza cultural, as ruas do Centro Histórico ficam cobertas por bandeirinhas. O trabalho artístico forma mosaicos de desenhos da cultura maranhense e frases pra quem observa o conjunto da obra por completo.

Caminhar pela Rua do Giz, por exemplo, e ao entorno da Casa das Tulhas é descobrir personagens da cultura maranhense e se sentir envolvida com a alegria, as cores e a festa que toma conta da cidade!

Conheça alguns grupos de Bumba Meu Boi

E foi nesta atmosfera, que acompanhei as noites de São João em São Luis no ano de 2023!

A estrutura montada pra festa impressiona. Mas ela acontece independente de palcos, luzes e telões de transmissão. Ouso dizer, inclusive, que os melhores arraiás estão nas pequenas praças, nas frentes das igrejas, onde o boi dança na mesma altura dos olhos do público que se espreme nas calçadas pra ver o espetáculo.

Assim foi uma das apresentações do Boi da Floresta no Largo da Igreja de Santo Antônio. O Boi da Floresta existe há mais de 50 anos e é considerado um dos mais tradicionais do Maranhão.

Crédito: @boidafloresta

O grupo faz parte do sotaque de Pindaré ou da Baixada, que é um ritmo mais lento. Além do estilo de vestimenta e chapéus bordados, os enfeites de pena de ema se destacam entre os integrantes.

Outra particularidade do grupo é a presença de um personagem diferente no elenco: o cazumba. Esse ser místico da floresta se apresenta com vestimentas cobrindo o corpo inteiro e o rosto. São vestes que, apesar de quentes e pesadas, não impedem que o cazumba dance e requebre no meio do público divertindo a todos.

crédito: @boidemorros

Na mesma praça de Santo Antônio se apresentou também o Boi de Morros. O grupo, que leva o nome da cidade maranhense onde foi fundado, representa o gênero de orquestra.

O capricho dos detalhes das roupas de todos os integrantes e os passos bem ensaiados pra apresentação chamam a atenção. A dedicação é tanta em defender a cultura, que não foi difícil receber um convite pra continuar acompanhando o grupo naquela noite nas próximas apresentações que viriam.

crédito: @boidemorros

Só depois que embarquei no ônibus junto com os índios e músicos é que percebi o quanto essa tradição é levada a sério e exige dedicação. Entre um arraiá e outro, os integrantes do grupo cantavam, até quase lhe faltarem a voz, as músicas que exaltam o Boi de Morros.

O relógio já passava das 22h e ainda haviam mais três arraiás pra eles se apresentarem. O público, de todos os lugares por onde o Boi de Morros passou naquela noite, foi recebido com o sorriso no rosto dos integrantes.

 

crédito: @boidemaracanã

Por fim, não podia deixar que a passagem por São Luis acabasse sem conferir o Boi de Maracanã. A famosa toada que exalta as belezas do estado nos versos “Maranhão, meu tesouro, meu torrão. Eu fiz esta toada, pra ti Maranhão. Terra do babaçu. Que a natureza cultiva. Esta palmeira nativa. É que me dá inspiração” foi escrita por Humberto de Maracanã, mestre da cultura popular e intérprete do grupo.

Além das matracas, os pandeirões marcam o compasso das toadas e provocam uma espécie de frenesi e deixam o público hipnotizado com o som forte e marcado que provocam. Outra curiosidade dos instrumentos é que eles são feitos de couro e são afinados com fogo de fogueiras que ficam próximas dos palcos das apresentações.

E assim como segue a toada, o meu desejo é que esta festa, “Esta herança foi deixada por nossos avós. Hoje cultivada por nós. Pra compôr tua história Maranhão” nunca acabe!

 

 

 

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