Em meio aos casarões antigos, alguns coloridos, outros já com as impressões do tempo nas fachadas, os contornos da negra Mercedes Baptista ganham destaque no Largo de São Francisco da Prainha, na Praça Mauá. A pele negra foi retrata em bronze e os movimentos e a elegância da postura da dançarina africana ficaram eternizados pelas mãos do artista Mário Pitanguy.
Ícone da dança, Mercedes foi a primeira bailarina negra a se apresentar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Ela é considerada uma das maiores precursoras do balé e da dança afro.
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Mercedes soube enfrentar o preconceito demonstrando seu talento. O resultado da sua dedicação veio através dos convites que recebeu para participar de vários espetáculos no século passado.
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Antes de falecer, aos 93 anos, em 2014, ela foi homenageada pela escola de samba Acadêmicos do Cubango, em 2008, com o enredo “Mercedes Baptista: de passo a passo, um passo”.
É ela quem dá as boas vindas para a visita no bairro, onde ainda existe uma comunidade quilombola, que luta para preservar suas tradições no Rio de Janeiro.
Pedra do Sal
Um dos locais que ainda mantém viva a tradição do samba no Rio de Janeiro é a Pedra do Sal. No início dos anos 1600, um grupo de baianos, que não conseguiram sucesso com o trabalho, se instalou no bairro da Saúde, no Centro do Rio.
Nessa região da cidade, a moradia era mais barata e por ser próxima ao cais do porto, as oportunidades de empregos como estivador, que eram aqueles trabalhadores responsáveis por arrumar as cargas nos porões e convés das embarcações, eram maiores.
Na antiga Pedra da Prainha, que ficou conhecida como Pedra do Sal, havia um grande mercado de escravos. Antigamente, era próximo da pedra que o sal era descarregado das embarcações que aportavam ali nas proximidades.
Com o passar dos anos, o local se tornou um ponto de encontro de sambistas que trabalhavam como estivadores. A pedra também foi o berço do samba urbano carioca e dos blocos de carnaval. No século XIX, a ocupação baiana já estava mais que consolidada e, coube à Pedra do Sal cultivar e fortalecer a cultura afro no Brasil.
A fama do local é tanta que vários documentários já foram produzidos para contar a tradição e as influências africanas na região. A importância cultural também foi reconhecida quando o espaço foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac).
As rodas de samba acontecem, tradicionalmente, as segundas-feiras e o público toma conta das vielas ao redor para curtir o ritmo genuinamente brasileiro.
Escravidão
O registro mais expressivo do tráfico negreiro está no cais Valongo, na zona portuária do Rio. O local foi reconhecido como “Sítio Arqueológico Cais Valongo” em 2013 pela Unesco, como um local de memória do projeto Rota do Escravo – Resistência, Liberdade e Patrimônio.
Ao longo de 300 anos de escravidão, mais de 4 milhões de escravos desembarcaram para um futuro incerto e sombrio nos portos brasileiros e, deste total, metade permaneceu no Rio de Janeiro.
A estimativa é que mais de 1 milhão de escravos africanos passaram pelo Cais Valongo na época em que o tráfico de pessoas era permitido. Próximo dali, um prédio colonial guarda uma fachada inocente no tom de rosa claro. A sutileza, porém, acaba logo ali, já que, do lado de dentro, eram fabricados instrumentos para a tortura dos escravos.
Coincidentemente, ou não, prova de uma outra realidade africana é a construção do Pavilhão da Cidadania, onde, pela primeira vez, foi utilizada mão de obra negra assalariada.
Entre as ruínas de um tempo obscuro, porém, necessário de ser lembrado para que a história não se repita, o verde do gramado do Cais Valongo surge para dar esperança para novos tempos de igualdade entre as raças.
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