Um espaço de 1,65 m x 1,17 m foi minha casa por quatro dias. Naquele quadrado debaixo da lona da barraca ficou ainda mais evidente que o que eu precisava para sobreviver naqueles dias cabia dentro da minha mochila.
Sem luxo para comer, algumas refeições (leia-se macarrão instantâneo) foram preparadas no fogão de duas bocas do camping. Outras vezes, almoçava de frente para o mar, colocando o prato de comida em cima de uma prancha de surf dos novos amigos.
O luxo também passou longe na hora do banho: fila de espera para o chuveiro de… água gelada!
A opção por acampar no ano novo não resumiu-se às questões financeiras. Acampar sempre foi uma vontade própria.
A barraca foi escolhida com cuidado e houve muitas pesquisas antes da compra para entender qual seria o modelo ideal.
Carregá-la junto com o saco de dormir e os mantimentos não foi problema. A não ser pela responsável da triagem de bagagens no aeroporto que fez questão de revistar ferro por ferro.
Vencida inexperiência com as varetas para que a barraca fosse montada, quando a noite chegava, o vilarejo de Palmas, em Ilha Grande, no sul do Rio de Janeiro, ganhava um brilho especial das estrelas.
De dia, a beleza quase intacta da praia era o que mais chamava a atenção: pequenos corredores de areia que levavam até a praia, com muitas árvores e flores pelo caminho. Amarrado em uma grande árvore que garantia sombra na areia, um balanço era o convite perfeito para descansar e observar, com calma, as ondas quebrando na beira da praia. Pra que se importar com a falta de sinal de telefone num lugar desses?
Mensagens no whatsapp e postagens nas redes sociais foram substituídas por conversas com os poucos moradores da praia, brincadeira com as crianças no rio e trilhas e passeios para outras praias.
Os vizinhos de barraca já tinham se tornado amigos. Os músicos, que ali estavam acampados, ensaiavam e afinavam os seus instrumentos ali entre os corredores de barracas que se formavam no meio dos varais de roupa e toalhas estendidas.
A energia vinda do gerador era controlada. Havia luz artificial das 18h às 2h da madrugada. Certa noite acordei no exato momento em que a luz era desligada. As folhas das árvores não faziam mais sombra na lona da barraca. Os animais pareciam ter silenciado.
A escuridão trouxe um medo que me invadiu e descontrolou o meu corpo a ponto de provocarem calafrios e secarem a boca. Sozinha, consegui me acalmar e compreendi que estava tudo bem comigo mesma.
O sono naquela madrugada chegou e só foi interrompido por uma orquestra de cigarras que despertava, pontualmente, às 4h.
Acampar me fez entender melhor a natureza e os animais. Respeitar aqueles bichinhos que encontrava pelo caminho e compreender o ritmo natural das coisas, como as estrelas no céu e o ciclo do sol.
Por mais de uma vez me peguei observando as coisas ao meu redor com a uma sensação de satisfação com o momento.
Não precisava da minha cama, nem das cobertas, almofadas e travesseiro. O guarda-roupa e as opções de sapato e bolsa já não faziam tanta diferença. O suficiente estava ali comigo e isso me bastava!
Após a experiência, me sentia orgulhosa ao carregar a mochila nas costas e toda a tralha do acampamento pelos aeroportos e rodoviárias que passei durante aquelas férias…
No término da viagem, de volta para casa, a barraca foi limpa e guardada com todo cuidado à espera do próximo uso. Que seja em um camping com água quente porém., Por favor!
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