O toc-toc das agulhas amarradas em madeiras é ouvido por todos os lados no Corredor das Rendas, no centro de Raposa, cidade próxima de São Luis do Maranhão. O som, que poderia até virar música, é apenas o primeiro sinal da arte feita com as mãos das rendeiras desde a década de 1950.
A pressa passa longe dali. Para cada peça, é preciso dedicação e tempo. Nas varandas, nas calcadas, nas lojas lá estão elas tecendo as linhas para a renda de birlo. A única vez em que a velocidade é notada é na agilidade das mãos com o trançado no birlo, um cilindro de madeira macaúba, palmeira própria de florestas tropicais.
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São os birlos que sustentam as linhas que são rendadas. Para uma peça, a rendeira pode usar mais de 300 birlos, mas só quatro são trançados ao mesmo tempo. Diante de uma almofada, em que são fincados espinhos de mandacaru para fixar o papelão com os desenhos, a renda vai nascendo.
O jeito lento de falar e o sotaque trazem mais encantos ainda para a explicação. Uma das rendeiras conta que são 10 pontos diferentes. Para uma toalhinha pequena é preciso quase uma semana de trabalho. Já para uma colcha de casal são necessários três meses de dedicação.
A técnica, porém, não é nativa do Maranhão. Famílias de pescadores do Ceará que migraram para Raposa foram quem levaram o artesanato para a cidade. No calendário das rendeiras ainda há tempo para confecção de jogos americanos, caminho de mesa, almofadas, cortinas, saídas de praia e muito mais. O resultado é mais do que uma peça de decoração. É uma obra de arte!
Diferentemente de muitas mulheres que aprenderam o bordado com a mãe, outra rendeira conta que não teve a ajuda materna na lição. Quando ainda era jovem, sua mãe sofreu um AVC e desde então, suas mãos não são mais ágeis para o trançado e os dedos não respondem mais os comandos.
A memória e o sorriso no rosto, porém, continuam. Felicidade tornou-se observar o movimento da rua e as prateleiras coloridas e cheias de produtos na loja, sentada em uma cadeira de balanço.
Para cuidar da mãe, sem a ajuda dos demais irmãos, a rendeira toca a loja de bordados sozinha e conta com a fé em Deus para ter forças de seguir adiante.
Enquanto isso, ela mostra com orgulho as fotografias antigas da família penduradas numa parede, próximo de onde chegou a tecnologia através da maquinha de cartão de crédito.
Para se programar
A melhor maneira de chegar até Raposa é de carro, já que são apenas 30 km de distância de São Luis. Há ainda a opção do transporte por aplicativos e ônibus intermunicipais que saem do Terminal de Integração Praia Grande. A passagem custa R$ 3.40 e a viagem demora cerca de 1h30.
Em um dia é possível conhecer o corredor das rendas e também a produção de pesca de uma das maiores colônias de pescadores do Maranhão. Para quem deseja passar mais tempo ainda em Raposa, há praias para se visitar, criatório das Ostras e opções de passeios pelos iguapés e pelas Fronhas Maranhenses. A contratação do serviço pode ser feita diretamente no Viva Raposa e no Porto do Braga.
O Centro de Atendimento ao Turista funciona na Rua do Coqueiro, s/n, na Praça do Viva.
6 Comments
Apaixonado por essa foto de abertura do post com as linhas enroladas nas cabaças. Eu sou um grande apreciador das artes manuais. Quanto trabalho lindo e cheio de história. Amei a dica, quero ver isso tudo de perto. Morri de amores pela toalha telada com os quadradinhos coloridos. Lindas peças!!!
Imagine, uma semana para fazer uma toalhinha? E depois muitos acham que o preço cobrado é “caro”. Eu valorizo muito o trabalho artesanal e achei sensacional você mostrar aqui o trabalho tão lindo destas rendeiras. 🙂
Que lindo!!! Sou do Ceará e sei bem do amor que as rendeiras empregam em cada peça!!!
Realmente uma obra de arte! Que delícia conhecer e entender mais sobre o trabalho delas.
Boa tarde,
As rendeiras vendem fora de Raposa. Tem site que eu possa comprar.
Obrigada.
Oi Cláudia! Em São LUis você encontra os trabalhos das rendeiras de Raposa sim. Abraços!