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A história de Dona Mocinha: a única moradora da Ilha do Livramento

A solidão nunca foi problema para ela. Ficar sozinha foi reencontro. Reencontro do seu íntimo com a natureza e com o universo. Única moradora da Ilha do Livramento, em Alcântara, no Maranhão, Dona Mocinha se mudou para a ilha há mais de 20 anos e, para dizer que não vive completamente sozinha, ela conta com a companhia de seus dois cachorros: Simba e Scooby.

Na Ilha do Livramento não há energia elétrica. Portanto, itens como geladeira ou freezer não fazem sentido. Os alimentos também precisam ser preparados com atenção para que não estraguem sem a refrigeração. Quando escurece, no lugar de luzes artificiais, estrelas brilham no céu, clareiam a vida de Dona Mocinha e fazem ela sonhar: “um dia eu ainda vou ter energia elétrica, se Deus quiser eu vou sim!”

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Da porta da sua casa, sentada numa cadeira de plástico debaixo da sombra, de frente para o mar, é que ela gosta de contar a sua história:

“Como eu vim parar aqui? Isso é um mistério. Eu vinha para cá de vez em quando passear e quando resolvi vir morar aqui diziam que eu não ia conseguir.”

Do interior de Alcântara, Dona Mocinha viveu 25 anos no Rio de Janeiro, não casou e não teve filhos. Sábia e espiritualista, ela diz que a cidade, às vezes, “atrapalha”.

A adaptação não foi fácil e foi sua pele quem mais sentiu as mudanças. Os maruípes, uma espécie de pernilogo, e pequenos carrapatos fizeram com que Dona Mocinha ficasse com uma textura de pele de sapo, como ela mesmo diz, por conta da quantidade de feridas e picadas.

Se pensou em desistir? Nunca.

A senhora de pele negra e cabelos brancos esbanja conhecimento e preocupação com o meio ambiente. Autora de um livro, ela já pensa no próximo e também ocupa a mente com o sonho do projeto para desenvolver o turismo sustentável na Ilha do Livramento.

“Aqui eu vivo calma, tranquila e feliz. Pratico a minha meditação e me tornei uma mulher da natureza.”

A ilha conta com trilhas ecológicas em meio a um rico ecossistema, em meio ao manguezal, as aroeiras e andirobas.  Além disso, a Ilha do Livramento também é um importante sítio paleontológico. Lá foram encontrados pedaços de árvores e de dinossauros fossilizados, recolhidos por pesquisadores.

Dona Mocinha possui um pequeno comércio na ilha, oferecendo comidas e bebidas. Através do pagamento de uma pequena taxa, os visitantes podem pernoitar no local.

História da Ilha do Livramento

Duas histórias diferentes tentam explicar a origem do nome da ilha. A primeira dela seria relacionada aos pescadores que buscavam abrigo na porção de terra, distante a 3 quilômetros de Alcântara.

A segunda história está relacionada a uma família portuguesa, que também buscou abrigo na ilha durante uma forte chuva em alto mar. Foi feita, então, uma promessa para Nossa Senhora do Livramento e, como forma de agradecimento pelo milagre, a família ergueu uma capela que recebia uma procissão de devotos todo o mês de dezembro. O fato é que, até hoje, na ilha ainda existem ruínas da capela.

Saiba mais:

Sonhadora, a riqueza da Ilha do Livramento faz com que Dona Mocinha acredite que, um dia, o espaço se tornará um Centro de Ecologia. E ela ainda completa: “Quero reflorestar a ilha com árvores frutíferas e trazer um bocado de pé de manga e laranja para cá”.

Dona Mocinha não possui filhos biológicos, mas seu coração é enorme, assim como a quantidade de amigos pelos quais ela nutre um carinho tão grande a ponto de considerá-los como filhos. Suas histórias e seu exemplo de determinação de vida, com certeza, também terão frutos assim como os pés de manga e laranja.

Para chegar até a Ilha do Livramento, a guia Caroline Aranha pode agendar o passeio com o Seu Chico, canoeiro mais famoso da cidade. Carol é uma das “filhas” de Mocinha e aprendeu com ela a receber bem seus visitantes.

A guia oferece o city tour histórico por Alcântara e também faz passeios para a Ilha do Livramento, pelos quilombos de Itamatatiua e Santa Maria, além de acompanhar os visitantes para a revoada dos guarás e nos banhos rios e praias.

*A viagem para a Alcântara teve apoio da guia Caroline Aranha. Apesar disso, as informações aqui descritas são livres de qualquer contraprestação.

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Comentário

16 Comments

  1. Meu Deus, que história fantástica! Estou de queixo caído com a coragem dessa mulher de viver dessa forma tão diferente! Obrigada por compartilhar

    • Eu conheço essa guerreira, ela é minha tia, me criou no Rio de Janeiro, em Copacabana. Se hoje tenho meus estudos é por causa dela.

  2. Que história! Uma ilha pra chamar de sua! Quanta dificuldade, quanta superação, quanta adaptação. Fiquei morrendo de vontade de conhecer Dona Mocinha e ouvir ela contar essas histórias. Post maravilhoso!

  3. Que história mais linda a da Dona Mocinha! Fiquei com muita vontade de visitar sua casa, seu cantinho sagrado! 🙂

  4. Nossa que coragem! Que história de vida! Essa mulher é incrível!
    Viver na natureza deve ser incrível! Mas não sei se eu me adaptaria a viver diretamente na natureza como ela.
    Que DIVA!

  5. Nossa não sei se eu conseguiria viver em uma ilha sozinha, sem internet, sem energia elétrica, sem computador, sem celular e sem PC. Admiro demais. Mas não sei se eu conseguiria ou não.

  6. Tenho muito o q aprender com D. mocinha! Não sei se eu seria capaz! Fascinante!

  7. Que história incrível, amei o relato!! Muito legal o trabalho dela de sustentabilidade

  8. Essa senhora é admirável! Impressionante a sua história de vida! Tomara que ela consiga realizar seus sonhos… tanto o de ter um dia energia elétrica, quanto transformar a ilha em um centro ecológico!

  9. Que história incrível! Não sei se me adaptaria a um estilo de vida assim! Muita coragem da Dona Rosinha! Um exemplo!

  10. Que história de determinação, superação e coragem dessa mulher ! Ela merece que seus sonhos sejam realizados! Tomara que ela consiga! Obrigada por dividir essa história com a gente! Da p se tirar muitas lições e fazer muitas reflexões.

  11. Não sei como não colocaram o companheiro da DNA Mocinha neste relato que é o Punk um homem negro enorme e forte com um ar de maus bofes mas que no decorrer da visita à ilha mostra que está lá para a nossa segurança e quase mudo acompanha os visitantes e seus relatos.
    É, muito engraçado e simplesmente super ingênuo quase uma criança.
    A DNA Mocinha é uma mulher vivida,carioca da gema é inteligente e não duvido cursou universidade.
    Mostrou me títulos de propriedade em seu nome da ilha.
    Este,Paraíso soube hoje foi tomado por bolotas de petróleo talvez da Venezuela e simplesmente acabaram com a ilha e sua natureza levará gerações para voltar a ser o que era,que pena…

  12. Como gostaria de morar dessa maneira de D Mocinha.

  13. Tive a oportunidade de conhecer dona Mocinha e um dos seus livros. Uma mulher guerreira que conta suas histórias de luta e sobrevivência com tamanha lucidez e sabedoria da vida!

  14. Conheci a ilha do Livramento em uma das viagens que fiz a Alcântara. Sou cearense e fotógrafo e fui várias vezes cobrir a incrível Festa do Divino Espírito Santo. Na época dona Mocinha tinha a companhia de um amigo conhecido por Punk. Sempre o encontrava na cidade.
    É um passeio incrível e Alcântara mora em meu ❤️.
    Espero que dona Mocinha alcance seu sonho de proteger esse pequeno paraíso. Este ano, 2023, espero poder voltar a ilha e visitá-la. Amo o Maranhão.

  15. Estive lá no dia 15 desde mês( 15/07/23) e é um lugar incrível, conheci a Dona Mocinha e agora ela tem energia solar, espero voltar com mais tempo, foi muito rápido.


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