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Como é percorrer o Caminho dos Escravos, em Diamantina?

O caminho é pesado. Não somente pelo grau de dificuldade da trilha… mas é inevitável não sentir uma atmosfera mais densa e carregada ao pisar naquelas pedras encaixadas, que formam o Caminho dos Escravos, sabendo que homens e mulheres negros, acorrentados, sobre forte calor, recebendo castigos e em outras condições desumanas realizaram aquele calçamento para o escoamento de diamantes.

A rota, hoje se tornou um caminho de reflexão e de ecoturismo. Ao longo do trajeto, de 23 km, você atravessa por diferentes tipos de vegetação, além de riachos e cachoeiras e mirantes.

Qual a história do Caminho dos Escravos?

O trajeto foi uma das principais ligações entre o norte de Minas Gerais e o sul da Bahia, no século 18 e 19. A rota ligava o antigo Arraial do Tijuco (hoje, cidade de Diamantina) até o vilarejo de Mendanha. Além das pedras preciosas, os tropeiros faziam o comércio de especiarias passando por este caminho.

Como a via era importante para a economia da região, o trecho foi calçado pelo trabalho escravo, que quebravam, carregavam e encaixavam as pedras, a mando do Desembargador Manuel Ferreira da Câmara Bittencourt, conhecido por Intendente Câmara.

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Essa obra permitiu o trânsito das tropas nos trechos mais íngremes e sinuosos do caminho. O calçamento também era conhecido pelo nome “pé de moleque” e foi muito utilizado em obras públicas nos séculos passados. De toda a extensão, cerca de 300 metros do calçamento original ainda estão preservados, no trecho mais próximo a Diamantina.

Como é a trilha do Caminho dos Escravos?

O percurso é considerado de nível difícil e dura o dia todo. Dependendo do ritmo de cada um, a caminhada pode durar cerca de 8h. Há duas opções para se fazer o caminho: no sentido Mendanha x Diamantina (mais comum) ou Diamantina x Mendanha.

Minha escolha foi o trajeto Diamantina x Mendanha, já que as subidas são menos íngremes e as placas de sinalização da trilha estão instaladas neste sentido. Além disso, o fato de estar hospedada em Diamantina facilitou a logística pra escolher esse sentido na saída pela manhã.

Caso você faça o trajeto acompanhado(a) de um guia de turismo, a logística da volta ficará por conta da empresa que você contratou o serviço. Agora, caso opte por fazer o trajeto sozinho(a) – situação que eu não recomendo por conta do grau de dificuldade e falta de sinalização na trilha – é preciso se atentar como será o seu retorno até Diamantina!

O ponto de partida da caminhada é o Mercado Velho de Diamantina onde, os tropeiros que chegavam de Mendanha faziam o comércio de vários produtos. De lá, o caminho segue por algumas das primeiras ruas do antigo Arraial do Tijuco, sentido o Mirante da Pedra de Diamantina.

Após contemplar a vista da cidade de Diamantina no Mirante da Pedra, o caminho segue adentrando no Parque do Biribiri, após atravessar a BR-367.

Na maioria do caminho, a vegetação é típica do cerrado: rasteira, com poucas árvores que trazem sombras durante a caminhada. Por isso, é extremamente importante passar protetor solar, usar chapéu ou boné, óculos de sol e levar 2 litros de água.

Quem percorre o caminho Diamantina x Mendanha, encontra placas de sinalização da quilometragem percorrida durante toda a extensão da trilha e com informações históricas do trecho onde você está.

No trajeto é possível fazer parada em, ao menos, um riachos e uma cachoeira para se refrescar e reabastecer as garrafas d´agua. Como no trajeto não há nenhum tipo de comércio, é importantíssimo também levar lanches para refeições ao longo do dia.

Cerca de 10 km após o início da trilha, fica o Poço Verde. O local pode ser uma parada para descanso, alimentação e banho antes de seguir a trilha.

Outro ponto histórico do caminho é o “Mirante do Graças a Deus”. A história popular conta que o caminho também era usado como uma rota de tentativa de fuga pelos escravos que viviam em Mendanha. E eles acreditavam que, quando conseguissem terminar a subida até o ponto onde está o mirante, sem serem capturados, as chances disso acontecer no restante do caminho eram menores.

Vencida esta parte mais difícil da rota de fuga, chegar no local do mirante, era motivo de comemoração e, por isso o local ganhou o nome de “graças a Deus”. Hoje, no local está cravado uma cruz sobre uma grande rocha, embaixo da sombra de uma árvore, com uma placa que homenageia os tropeiros que passaram por lá.

No início da descida, vencida já mais da metade do caminho, é possível avistar a Serra de Santa Apolônia. Os antigos moradores da região o aparecimento de uma santa em uma espécie de portal existente no alto da serra. Como os viajantes que cruzavam o caminho rezavam para Santa Apolônia, o mirante levou o nome da santa.

Já próximo do distrito de Mendanha, a trilha abre uma bifurcação à esquerda para a descida até algumas cachoeiras, como a Cachoeira do Pai Rocha, do Vô Toninho e Sóter. A sugestão é fazer mais uma parada neste local para repetir o descanso, o banho de cachoeira e alimentação pro percurso final de 6km até o vilarejo de Mendanha.

Chegando em Mendanha, uma capela de Nossa Senhora das Mercês dá as boas vindas aos viajantes. O local possuia uma das maiores extrações de diamantes na região.

As tropas que passavam por lá eram obrigadas a pagar um pedágio para atravessar a ponte sobre o Rio Jequitinhonha. Hoje o trajeto pode ser feito livremente por pessoas e carros.

Aproveite a passagem por Mendanha, porta de entrada do Vale do Jequitinhonha, para observar os casarões do distrito, os muros de pedra e o Cemitério dos Escravos.

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Comentário

1 Comment

  1. Uma parte da nossa história.
    Pouco divulgada, pouco conhecida, pela população.
    Devemos divulgar mais, a nossa maior riqueza, que é a nossa história.


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