“Eu não nasci no samba, mas o samba nasceu em mim…”
O samba não é só o batuque que se ouve durante o desfile de carnaval e contagia os foliões distribuindo alegria. É feito de cada gota de suor que escorre pelo corpo de um ritmista.
O samba também é feito de compromisso em horas seguidas de ensaio e de gritos e olhares de repreensão por parte dos mestres de bateria que buscam a perfeição do som. Para a batida acertar o ritmo, muitas vezes ela caleja o dedo de quem segura as baquetas e fica horas seguidas em pé carregando o instrumento pesado durante o desfile.
Por que de tudo isso?
Talvez os versos cantados por Maria Rita ajudem a traduzir uma parte do inexplicável deste universo chamado samba: “é corpo, é alma, é religião.”
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O samba não é só fevereiro! Ao contrário: é o ano inteiro. São meses de dedicação nos ensaios, baldeações entre as conduções até chegar na quadra, de afinações dos instrumentos, de aprendizados, de amizades, rodas de conversa e de conselhos. É assim que se faz o samba no Rio de Janeiro há mais de 60 anos no bloco do Cacique de Ramos, do qual eu tive a honra de acompanhar de perto o desfile no carnaval de 2020.
História do Cacique de Ramos
O bloco, criado na zona norte do Rio em 1961, tornou-se um dos maiores e mais tradicionais do carnaval do Brasil. Berço de tantos nomes do samba, como o grupo Fundo de Quintal e do cantor Zeca Pagodinho, o Cacique de Ramos ainda tem a sambista Beth Carvalho como sua madrinha.
Atualmente, o desfile do bloco chega a reunir mais de 30 mil pessoas em cada noite de apresentação no Centro da cidade. Nenhuma delas consegue ficar parada quando puxam os versos:
Olha meu amor esquece a dor da vida. Deixe o desamor caciqueando na avenida. Nesse ano eu não vou marcar bobeira. Vou caciquear, só vou parar na quarta-feira.

Para quem não aguenta esperar o desfile no carnaval, a quadra do Cacique de Ramos recebe uma roda de samba todos os domingos e, no último domingo do mês, também é servida uma feijoada. Agora, as atividades estão suspensas por conta da pandemia do coronavírus.
Ali já se apresentaram os maiores e mais importantes nomes do samba como Jorge Aragão, Emílio Santiago, João Nogueira, Jovelina Perola Negra e tantos outros.
Logo na entrada da quadra, algumas fotos ajudam a relembrar a história do bloco. Ubirajara Felix do Nascimento, mais conhecido como Bira Presidente, líder e fundador do Cacique de Ramos, também teve a sua imagem eternizada em um pandeiro gigante.
Tamarineira e as raízes do axé
Entre tantos nomes de peso do samba, uma tamarineira também recebe a mesma atenção de todos, sejam músicos ou de quem visita a quadra do Cacique de Ramos. A árvore é tida como um patuá da agremiação e guarda todo o “axé” do samba.
Uma placa fixada sobre seus pés diz que “Todas as pessoas que por aqui passarem, forem boas de coração e tiverem dotes especiais colherão frutos.”
O Cacique de Ramos se consagrou no carnaval carioca, não só pela sua originalidade (que recebeu muitas críticas, inclusive), mas também pela dedicação e talento dos seus membros.
O carnaval de verdade não se faz apenas com samba no pé. É preciso de gente que tenha o samba na alma, no coração e pulsando nas veias.
1 Comment
Sensacional! Fico feliz demais por ter te apresentado o Cacique de Ramos. Volte sempre!