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Entre o pôr do sol e as estrelas da Chapada dos Veadeiros

O sol já tinha baixado e aliviado o calor feito nas últimas horas durante a trilha. O caminho, porém, continuava sinuoso e se apresentava desconhecido para o casal que resolveu enfrentar a trilha do Mirante da Janela sozinho, sem a companhia de guias.

Com tantas bifurcações e paisagens repetidas, se perder ali não era tarefa difícil. E foi tarefa cumprida. No início da noite, o desespero já tomava conta do jovem casal que procurava o caminho de volta. Mais difícil que achar a saída seria conseguir sinal de telefone para se comunicar. Depois do mais improvável, no topo de uma pedra, na beira do vale, eles conseguiram avisar os pais da jovem, lá na Bahia, sobre o desencontro.

Sem saber ao certo o que fazer para ajudá-los, os bombeiros foram acionados para o resgate. Para aumentar ainda mais o desespero, a corporação que atende a região da Chapada dos Veadeiros disse que não poderia ajudar, já que não conheciam profundamente a região. Entrar ali no meio do mato naquela hora da noite seria tarefa apenas para os guias.

E foi assim, de ligação em ligação, que o pedido de ajuda chegou até o velho cabloco que cuida de uma cabana montada na entrada da trilha e dá apoio aos visitantes. Somente pela descrição do pouco que enxergavam a frente, o cabloco conseguiu identificar em qual altura da trilha o casal estava perdido e foi até lá buscá-los, já próximo da meia-noite.

Do Mirante da Janela se vê a queda das cachoeiras do Salto do Rio Preto em meio as montanhas da Chapada dos Veadeiros

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Há quem diga que a trilha do Mirante da Janela é uma das mais difíceis a serem percorrida por aquelas bandas. Eu não discordo. Além de um certo preparo físico para subidas e descidas íngremes, onde a sua pressão arterial pode lhe dar uma rasteira, o calor e o encanto com a paisagem também estão sempre prontos para te enganar. Apesar disso, todo o cansaço, tropeção, picadas de inseto, suor enxugado na testa e todas as vezes que senti a garganta seca, recompensaram a vista que se tem na Janela.

Saiba mais:

Em um estado de frenesi por ter conseguido caminhar 10 km, logo no primeiro dia de trilha, o meu grupo comemorou junto a chegada com muitas fotos do topo das pedras encaixadas que formam a Janela, de onde ainda se avista as cachoeiras do Rio Preto. Do lado oposto da queda das cachoeiras, o pôr do sol se apresenta poderoso, rasgando o céu do Cerrado em diversos tons de laranja e cobrindo toda a vegetação que se apresenta ali embaixo nas montanhas e no vale.

A contemplação não pode demorar muito, já que a trilha de volta nos espera e a lua era quem nos faria a companhia. Em meio às histórias contadas pelos guias, que se apresentam quase como lendas, o medo da onça faz com que os passos sejam mais acelerados. Afinal de contas, são três espécies que habitam a região: sussuarana, pintada e preta. Depois que o sol se baixa, somente a luz do céu todo estrelado e das nossas lanternas é que nos faz companhia.

De volta à barraca de madeira do cabloco que, há essas horas já estava descansando, um café preto fresco deixado sob a mesa reforça o ânimo para a continuação da caminhada. Mesmo sem luz, todos procuram um dos bancos de madeira para se sentar em volta da mesa, fincada no chão de terra, e brindam a conquista da chegada como se estivessem comemorando com champanhe.

Entre memórias, ainda frescas da caminhada, das risadas, dos tropeços e momentos de dificuldade, caminhamos com mais tranquilidade e alegria até o carro que está estacionado há pouco mais de 2 quilômetros – distância essa que se tornou “fichinha” durante os dias de trilha que iriam se seguir dali em diante.

Em meio ao som dos animais que se escondem durante a noite no pouco de mata fechada que há no cerrado, o trecho onde a vegetação não é tão escassa nos permitiu desviar o olhar – antes atento para as pedras e buracos no chão – para a luz das estrelas. Caminhar olhando para o céu almejado entre astrônomos e trilheiros foi a recompensa final para aquela noite abençoada por uma brisa fresca.

O que levar para Chapada dos Veadeiros?

Os itens essenciais para quem quer encarar os dias de trilha na Chapada são:

  • ÁGUA, ÁGUA, ÁGUA, ÁGUA, ÁGUA, ÁGUA, ÁGUA, ÁGUA, ÁGUA, ÁGUA, ÁGUA, ÁGUA, ÁGUA, ÁGUA, ÁGUA E ÁGUA!!!
  • PROTETOR SOLAR, PROTETOR SOLAR, PROTETOR SOLAR, PROTETOR SOLAR E PROTETOR SOLAR!!
  • REPELENTE, REPELENTE, REPELENTE, REPELENTE, REPELENTE, REPELENTE, REPELENTE E REPELENTE!!!

Muita gente se aventura, literalmente, em fazer a trilha de chinelo. Além do perigo de picada de animais, você pode se machucar seriamente com um simples escorregão. O ideal mesmo são botinas ou tênis. Uma dica que aprendi com os guias é sempre amarrar bem forte o cadarço para dar mais firmeza nos pés e evitar torções em caso de pisar em falso ou quando você perde o equilíbrio e escorrega. Ir de blusa de manga cumprida, ou levar um lenço, além de um boné para se cobrir pode ajudar também.

Além disso, leve comida: biscoito salgado, frutas, castanhas, amendoim, barrinha de cereal, lanches… Tudo aquilo que possa te dar energia.

A dica para levar água é sempre congelar duas garrafinhas de 500 ml e levar mais duas em temperatura natural: Você vai tomando primeiro as garrafinhas que estão frescas. na volta, tome aquelas que antes estavam congeladas, assim você terá água gelada durante toda a trilha. O mínimo que eu aconselho são 2 litros de água por dia. Além disso, conte com isotônicos também!

Não exagere no peso da sua mochila! Leve somente o essencial e a câmera para fotografar! Você não irá precisar de nada mais além disso!

Como chegar e como se programar para a Chapada dos Veadeiros?

A região da Chapada dos Veadeiros abrange diversos municípios no norte de Goiás. Os destinos mais procurados pelos trilheiros são Cavalcante (onde fica a famosa Cachoeira de Santa Bárbara) e Alto Paraíso, incluindo sua charmosa Vila de São Jorge. Além das trilhas do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, as cachoeiras também estão escondidas em outras trilhas.

Dentro do parque a entrada é gratuita e você não precisa do acompanhamento de guias. Já nos demais passeios, os valores da entrada variam de R$ 5 até R$ 30 por pessoas e, em alguns, a presença de guia é obrigatória, como na Santa Bárbara. Independente da obrigatoriedade ou não de guias, aconselho que você procure um guia ou uma agência. Motivos:

  • Você estará incentivando o trabalho local;
  • Guias conhecem a região como ninguém e vão te ensinar desde onde você pode pisar até em qual árvore você pode se apoiar e onde nadar em cada cachoeira;
  • O mais legal é poder ouvir histórias dos próprios moradores do local e aprender sobre a história e os costumes da região com quem mais entende do assunto.

A porta de entrada da Chapada dos Veadeiros é Brasília. De lá são 230 km ao norte pela BR-020 (sentido Formosa) e depois pela GO-118 (sentido Alto Paraíso). A empresa de ônibus que opera a linha (em horários escassos – apenas três saídas diárias da Rodoviária Interestadual de Brasília) é a Real Expresso. A passagem gira em torno de R$ 46,95. (valores referentes ao mês de setembro de 2017)

Outra opção para quem não vai de carro é o grupo de caronas dos viajantes. O grupo se organiza pelas redes sociais e, quem está a procura ou oferecendo carona, avisa sobre os horários, quantidade de vagas disponíveis no carro e como será a contribuição. Acredito que alugar um carro seja uma das melhores opções: o melhor benefício para quem viaja sozinho ou com grupo pequeno é a facilidade para locomoção até as cachoeiras mais distantes.

A Chapada dos Veadeiros não se resume apenas em cachoeiras. Há muito o que se fazer por lá e aprender com o misticismo que envolve a região. Por isso, veja o que é sua prioridade e monte seu roteiro. Já aviso que uma semana não é o suficiente!

Muitas pessoas perguntam também sobre qual é a melhor época para se visitar a Chapada dos Veadeiros. Isso depende muito de qual é o seu objetivo de viagem. É importante saber que, entre os meses de abril e setembro, é o período de seca. Ou seja, não chove e, em algumas cachoeiras, o volume d´água diminui consideravelmente. Passei por algumas que estavam secas de tudo. Por outro lado, essa é a melhor época para se visitar a Cachoeira de Santa Bárbara e as Loquinhas, já que suas águas ficam cristalinas.

Onde comer na Chapada dos Veadeiros?

Na Vila de São Jorge existem algumas opções de lanchonete e restaurantes que oferecem pizza, massas e comida caseira. O mais famoso deles é o restaurante da Nenzinha. É lá que o pessoal da trilha se encontra para o “almo-janta”.

Já em Alto Paraíso, o Coisas da Drica, além de opções saudáveis e veganas, costuma reunir adeptos de meditação e o espaço também conta com uma lojinha. Para quem gosta do clima de barzinho e quer curtir uma música ao vivo a parada é a Vendinha 1961. O prato mais famoso de lá é o pastel de pequi.

Próximos das trilhas das cachoeiras está escondido o melhor comida goiana em simples restaurantes. Não julgue o local pela simplicidade!

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Comentário

4 Comments

  1. “O que levar: agua, agua, agua” 🤣 hahahahah muito bom! Deve ser incrivel! E Lendo sua experiência quero mais ainda ter a oportunidade de conhecer!

  2. Nossa menina já fiquei perdida em trilha a noite também, que sufoco! Ainda bem que o celular pegou,ufa!
    Adorei as dicas! Avistar as estrelas de um lugar desse deve ser mesmo fantástico! Única coisa que senti falta foi a selfie com a dona onça eim hahaha, brincadeirinha! Parabéns pelo post

  3. Adorei todas as dicas, mas confesso que o que mais me chamou a atenção foi a sua forma de escrever. Quase um romance. Já avaliou escrever um livro? Faria sucesso!

  4. Adorei as dicas e fiquei encantada com a sua forma de descrever o lugar, as situações… esse contato com a natureza é maravilhoso. Amei a dica de congelar as garrafinhas de água, dica anotada! Obrigadaa por compartilhar. Grande beijo


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