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A superação de uma trilha por quem tem dois joelhos defeituosos

O fascínio pela formação rochosa do Vale da Lua, as cores cristalinas da Cachoeira de Santa Bárbara e a curiosidade pelo misticismo da Chapada dos Veadeiros fizeram com que eu esquecesse de um único detalhe na hora de fechar o pacote de viagem: o diagnóstico de condromalácia patelar nos dois joelhos.

Desde os 11 anos, minhas atividades físicas foram substituídas por sessões de fisioterapia, RPG e acupuntura, além de remédios manipulados para fortalecer a pouca cartilagem que tenho. Como resultado disso, andar ao meu lado é ouvir constantes (e altos) estralos. Às vezes eles travam e já precisei voltar de uma simples e inocente visita ao Mercado Municipal de São Paulo em uma cadeira de rodas.

Antes que me perguntem, não há como resolver o problema com cirurgia. A doença é crônica e o único jeito é ir fortalecendo os joelhos e aprender a lidar com as dores.

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Antes da viagem, me recordo de ter feito apenas duas trilhas, na praia, aliás: a primeira foi a travessia até a Prainha Branca, no Guarujá, partindo de Bertioga. Cheguei com a ajuda dos meus joelhos, mas precisei voltar rebocada em um barco. Já a segunda trilha foi na Prainha de Caraguatatuba. No final dessa trilha fica a famosa Pedra do Jacaré de onde alguns aventureiros se jogam no mar e é possível observar, com sorte, tartarugas marinhas. Não preciso dizer que prefiro a segunda opção, certo?

A experiência pós-trilha do Jacaré foi uma dor miserável nas pernas que fizeram com que eu não aproveitasse os outros dois dias de praia que ainda restavam.

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Apesar de ter lido o roteiro detalhadamente inúmeras vezes, feito alterações para que tudo ficasse do meu agrado e tendo encontrado as palavras “nível de intensidade forte” em mais de uma linha, não compreendi a cilada que poderia estar entrando.
 Antes da viagem para a Chapada dos Veadeiros, a afinidade com trilhas aumentou com a compra de uma bota por míseros R$ 70 (o que evidência que o produto não era de boa qualidade). Mesmo assim, fui!

Ingênua, como precaução levei apenas minha joelheira.

E o primeiro desafio a ser vencido, que não estava no roteiro, aliás, foi a trilha até o Mirante da Janela, de onde é possível avisar as quedas do Rio Preto.

No final do mês de agosto, em que as nascentes estavam quase secas, há muito tempo não caía uma gota de chuva vinda do céu e alguns guias não quiseram se arriscar em levar o meu grupo até lá.

O motivo disso é que, além da trilha ser de alta complexidade, a cachoeira do Abismo, que refresca e revigora o trilheiro no caminho, tinha secado também.

Encontramos um guia que topou a aventura e fomos ao final da tarde. Mesmo assim, o sol castigava nossa caminhada. Primeiras subidas e tudo bem com meu joelho. Com a ajuda de um bastão enfrentei as decidas, mas tive medo ao ver uma menina passando mal ao meu lado.

Ao mesmo tempo que ajudava a moça, refrescando seu pulso e sua nuca, fiquei com receio de ser a próxima a sentir o corpo dando sinais de alerta.

Até então, nunca tinha testado meu preparo físico ao extremo. Comecei a tremer de medo, com uma série de pensamentos negativos sondando a minha mente no meio do nada no Cerrado de Goiás. Consegui me controlar, tomei um gole d´água por garantia e permaneci firme e confiante para a última subida.

O sol ainda estava no céu mostrando toda sua força, mas a chegada ao topo fez com que eu esquecesse todos os medos. A sensação de vitória, acima de tudo, somado com o sentimento de liberdade, encanto com a natureza intacta por onde quer que mirasse os olhos e entusiasmo com os dias que se viriam, colocaram de lado as dores nos joelhos.

A volta foi apressada, afinal de contas, escurecia e o local é território conhecido de três espécies de onças. Como recompensa, eu e meu grupo ganhamos um vale desconto em uma pizzaria da Vila de São Jorge. Me lembro de contarmos para todos os cantos que tínhamos encarado a trilha na seca. Nos dias seguintes ainda brincávamos: “Ah, se fomos até o Mirante da Janela, essa trilha será fácil”. E assim foi.

Entre tantos aprendizados naqueles 8 dias pela Chapada dos Veadeiros, aprendi que, se você não está bem hidratado, não toma a água da maneira correta e anda em um ritmo acelerado, sem respirar corretamente, não será difícil que fique tonta e sinta a sua pressão arterial cair.

Depois da pizza, dormi sem dores, realizada e ansiosa pelo próximo dia. O cansaço só bateu na hora de acordar no dia seguinte, quando me dei conta que tinha perdido a hora. Mesmo assim, troquei de roupa rapidamente, amarrei o cabelo e belisquei uns pães na mesa de café da manhã da pousada e corri para o Vale da Lua.

Após a Chapada dos Veadeiros vieram outras trilhas (com a mesma bota guerreira de R$70) pela Serrinha do Alambari, refiz a trilha da Prainha sem reboque e, inclusive, enfrentei 26 km em uma caminhada! Quando as pessoas perguntam como faço tudo isso por conta dos joelhos, lembro daquele ditado: “Se você não pode contra eles. Junte-se a eles” para dizer que nem meus joelhos são capazes de interromper a minha vontade de viajar.

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12 Comments

  1. Muita coragem encarar essa aventura ! Tenho o mesmo problema no joelho direito; e com 54 a fico preocupada com a possível dor ( sei que começa do nada assim q medicamentos passam efeito ) tandrilax / meloxicam / Ártico ) companheiros diários ! To ne inspirando em vc pra lidar com isso ; tô num projeto de ir ao santuário de Aparecida a pé ( + ou – 400 km ) obrigada pela coragem q fez aumentar em mim ! Bjos !!

    • Cleonice, se tratando de uma caminhada de fé, tenho certeza que você irá conseguir vencer esse desafio! Boa sorte!

  2. Nossa amiga, que lindo! Não sabia do seu problema no joelho e fiquei muito orgulhosa de você! Esse lugar é um que está na minha lista para conhecer em breve.

  3. Nossa! Que desafio realizar essa trilha nas condições que você descreveu! Deve ter sido muito legal chegar ao final e poder contemplar toda a vista maravilhosa da Chapada dos Veadeiros! Quando eu fui não consegui fazer a trilha da Janela do Céu, mas com certeza está na minha lista para uma próxima vez!

  4. Lindíssima história de superação e eu realmente imagino o grau de dificuldade, porque nem tenho nada nos joelhos e já achei bem difícil algumas trilhas da Chapada.Não fui no mirante da janela por medo de não aguentar, mas depois do seu relato me sinto super preparada! Obrigada pelo incentivo!

  5. Uau! Que superação e que aventura, certeza que chegar lá no topo fez esquecer qualquer dor e cansaço do meio do caminho. Tenho muita vontade de conhecer essa região, mas sou meio fraca para trilhas rs, sou mais praiana rsrs.

  6. Que fantástico: superação e levando o corpo ao limite! Parabéns! Às vezes, a gente nem sabe até onde pode ir devido ao medo que temos de enfrentar alguma dificuldade devido às nossas limitações.
    Eu ando com uma probleminhas de cartilagem no joelho, mas, com certeza, nada comparado ao seu que, como disse é crônico. Acabo evitando alguns desafios devido a dores e agora, preciso tomar vergonha na cara e enfrentar essa situação de frente. O seu post foi o impulso que eu precisava para retomar antigos projetos de viagem.

  7. Aplausos para a sua determinação e superação. Uma verdadeira inspiração ler o seu relato. No início, fiquei tenso sem saber se vc conseguiria chegar ao final. Mas este foi mais que feliz. Vc não apenas chegou como não apresentou consequências físicas. Parabéns!

  8. Admirável. Sei um pouquinhozinho do que você passa porque tenho problema na cartilagem de um dos meus joelhos, o que me rendeu fisioterapia e fortalecimento do músculo pra dar uma melhorada, mas não se compara com seu problema crônico. E sei que isso atrapalha e muito. E sei que as trilhas da Chapada não são fáceis, sobretudo a do Mirante da Janela! Gostei do que li, bom pra parar de reclamar das trilhas nas próximas vezes em que for. Parabéns!

  9. Sou fisioterapeuta e RPGista e sei bem como é essa patologia! Quanto a questão do clima, realmente tem que ter cuidado principalmente no período da seca pq aqui no cerrado a umidade do ar cai muito, não sendo aconselhado fazer longas caminhadas e sem hidratação adequada depois das 10h da manhã . Adoro a Chapada dos Veadeiros., tem muito p conhecer por lá .Parabéns pelo relato.

  10. Parabéns pela determinação!!! Fico muito feliz por ter conseguido chegar lá! Muitos não se animam a fazer essa trilha, mesmo sem nenhum problema nos joelhos. E o melhor de tudo é que você não parou mais! Continuou fazendo outras caminhadas tão ou mais difíceis como essa!

  11. É muita superação mesmo, eu não consegui fazer essa trilha, quando fui para Veadeiros e por conta disso, preciso muito voltar, para conhecer esse cartão postal. A sua foto com o cajado está linda, parabéns!


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