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As amizades que trouxe do Maranhão

“O tempo não corre nem mente

Passa bem diferente

A brisa no rosto faz desacelerar”

Bárbara Dias

 

Nos Lençóis Maranhenses me senti leve como os grãos de areia que são levados pelo vento. Em Alcântara fiz amigos e vi um dos mais belos espetáculos da Terra: a revoada dos guarás! Na Chapada das Mesas senti no corpo a força da natureza debaixo da Cachoeira de São Romão. São Luis me apresentou o tal do reggae maranhense e descobri o porquê a cidade é conhecida como “Ilha do Amor”.

Tanta gente que cruzou os rios, as estradas e as trilhas comigo ao longo dos 20 dias pelo Maranhão que não seria justo não relembrá-los aqui.

O caminho até Barreirinhas é feito por muito mais do que asfalto e placas de sinalização. É feito de gente. Gente que estende roupa na cerca de bambu e que observa o tempo passar sentado num banco debaixo da sombra de uma grande árvore. Gente que vê no movimento dos turistas a oportunidade para vender seu artesanato e os produtos da terra.

Milho e seus derivados, cachos de banana, abóboras e muito mais. Logo ao lado, as crianças aproveitam para brincar com as galinhas soltas no quintal.

No Maranhão fiz amigos que me orgulho em manter contato, dividir alegrias, vitórias e partilhar conselhos.

Dei risada, comi farinha d´água e doce de espécie, fui a uma seresta, dancei reggae no meio da rua e ouvi música brega. Tomei banho de rio, de cachoeira, de chuva e de lama.

Andei de canoa no meio do mar durante uma tempestade e peguei carona, por mais de uma vez, em um barco sem conhecer ninguém.

Fiquei sem reação diante das belezas. Vi o pôr do sol da estrada, das dunas, do alto das chapadas e do Rio Tocantins. Aprendi a dançar e me entreguei em uma paixão.

Para chegar até Santo Amaro, era a única “turista” entre os passageiros de uma jardineira.

Cacau, o motorista, é conhecido por ter “bons olhos” e reconhece de longe os moradores de Santo Amaro que estão a sua espera em Barreirinhas para retornar para a cidade onde vivem.

Todos os dias ele acorda às 4h, toma seu café, confere sua lista de passageiros anotada à mão num pequeno caderninho e vai de casa em casa chamando um a um. São moradores que precisam resolver seus problemas, principalmente, em agências bancárias.

Maria já foi duas vezes até Barreirinhas para tentar retirar o CPF do filho, mas não conseguiu. André, junto com a esposa e dois filhos pequenos, foi até o banco e aproveitou para comprar fraldas, utensílios domésticos e Danone para as crianças.

Nos meus pés levei, de um lado, um motor de barco e, do outro, um jogo de panelas. Ao longo das horas da estrada, houve paradas pra que Cacau pudesse cobrir os passageiros da chuva com plástico, conversa sobre o Bolsa Família, alertei André que seu filho poderia ter refluxo depois de ter engasgado e presenciei o jeito fácil de se fazer negócio por lá quando Maria ofereceu 15 cabras para Cacau.

Saiba mais:

Tomei sorvete com as crianças do povoado de Betânia, enquanto observava a inocência delas após um banho de rio. Ensinei um menino a nadar, andei no sentido oposto do Centro de Barreirinhas e parei em um bar onde só havia moradores da cidade se divertindo.

Soube da história de vida de uma rendeira de Raposa que, diferente das demais, não aprendeu o bordado com a mãe, vítima do AVC, e sim, teve que aprender sozinha para trabalhar e cuidar das finanças de casa.

Conheci Carmélio, guia na Chapada das Mesas, que mais parece um peixe pela sua habilidade em nadar e em encontrar objetos perdidos no fundo dos poços. Orgulhoso, ele conta pra todo mundo a coleção de óculos, brincos, relógios, correntes, dinheiro e tantos outros objetos curiosos que já encontrou nas cachoeiras.

Foi ele que parou na casa de Fabiana, na beira da Transamazônica para que eu pudesse comprar farinha d´água. No meio do escuro, uma clara luz brilhava no fundo indicando a casinha simples de portas abertas. Aproximei-me, bati as palmas e fui recebida muito bem.

Viajar, para mim, não teria sentido se não tivesse conhecido a Denise, dentista que percorre mais de 280 quilômetros toda semana, de carro, ônibus, van e barco, para atender um povoado distante.

Maranhão continua comigo quando a Carol me confidencia sua vida amorosa, quando o Tavinho me liga pra contar seus planos e pra gente matar a saudade e com as brincadeiras e risadas com o Josiel.

Não seria o mesmo sem o Seu Milton e seus atrasos nas corridas de moto e suas mensagens de “bom dia” no whatsaap que recebo até hoje.

Além dos aprendizados pessoais que a viagem me trouxe ao poder fazer parte da rotina de pessoas tão diferentes de mim, mas que ao mesmo tempo souberam me receber tão bem, descobri que a vida é feita além dos nosso roteiros. É feita de conversas informais, de abraços, de sorrisos e de laços que vão além das fotos bonitas e dos check-in nas redes sociais.

Tentei por vários meses pensar numa mensagem para encerrar esse post até que ele fosse publicado, mas minha tentativa foi fracassada. Talvez porque as transformações dessa viagem ainda não terminaram…

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16 Comments

  1. Ah.. lindona…Gratidão por contar com tanta sensibilidade suas vivências no Maranhão. Mérito seu que olha com beleza a simplicidade e a riqueza do nosso Maranhão. Viajamos junto com você em sua escrita.

    • Q bacana seu comentário sobre o meu Maranhão. Sou guia de Turismo aqui e qdo precisar e sentir vontade de voltar terei prazer em guia-la. Zildenice Barros 98 988246667😊

  2. Preciso viajar pro Maranhão, sério! Pra ontem.

  3. Que lindo ♥️ Obrigada por compartilhar experiências. Acredito que o Maranhão seja um lugar para encantamento pra quem vem aberto a receber. Você veio de coração aberto!

  4. Aaaaah, que texto maravilhoso!! Meu coração ficou pulando de alegria enquanto lia, relembrando toda a viagem e tudo o que aquele estado representa pra mim tbm! Aah Maiara, vc traduziu em palavras esse sentimento de amor pelo Maranhão que nasce sem mesmo que vc perceba!

  5. Quanta riqueza de detalhes Maiara!
    O teu blog é lindo e tu merece esse mundo inteiro…
    Parabéns 💕

    • Sua sensibilidade provocas suspiros, ai ai ❤️

  6. Adorei seu post cheio de vivência e crescimento pessoal nessa imersão no Maranhão. Quero muito conhecer esse Estado tão cheio de vida, cores, sabores, garra e superação.

  7. Aiiiii Maiara que post mais lindo! O jeito que você escreve é tão poético, tão lindo e tocante! Continue perseverante e nunca deixe este blog de lado!
    Eu amoooo fazer amizade nas viagens mas não tive a oportunidade de conhecer tanta gente local como você fez no Maranhão! Amei a história de cada um e imaginei você vivendo cada momento e ouvindo tudo!
    Foi um post bem autêntico e emocionante! Amei!!

  8. Ah, que coisa mais linda! Adoro fazer amizades pelo caminho! Fiz bons amigos viajando com quem mantenho contato ate hoje!

  9. Que delícia de post! Maranhão ganhou um lugar cativo no seu e nos nossos corações! Muito especial!

  10. Essa viagem ainda vai reverberar muito em você, Mai… por isso não tem como terminar esse post. As viagens são feitas pelas pessoas que passam por nós né? Acho incrível poder mergulhar dentro do outro. Não é a toa que o Maranhão ganhou tanto teu coração!

  11. Já te acompanho há algum tempo e sempre me encanto com sua escrita sensível, mas este post se superou! Pessoas são melhores do que qualquer coisa, com certeza! Lindo, lindo!

  12. Que texto adorável e sensível. Fiquei com muito mais vontade de conhecer os encantos do Maranhão .Encontros com pessoas sempre são o que de melhor se leva de uma viagem.

  13. Q bacana seu comentário sobre o meu Maranhão. Sou guia de Turismo aqui e qdo precisar e sentir vontade de voltar terei prazer em guia-la. Zildenice Barros 98 988246667😊

  14. Nossa que post lindo !
    Que leitura leve e cheia de emocoes!
    Fazia tempo que não me deleitava com uma leitura tão cheia de emoção!
    Sou maranhense e trabalho com Turismo há bastante tempo e estou realmente muito feliz com sua experiência na minha terra.
    Sentir como ainda é gratificante viver.o TURISMO.
    GRATIDÃO


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