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Quando a mochileira vira turista

Já não me lembrava da última viagem que tínhamos feito nós três juntos. Viagem no sentido de arrumar as malas e ficar um final de semana fora de casa. Aliás, esse era o conceito que tínhamos de viagem: apenas um final de semana.

Talvez nosso último passeio juntos tenha sido na minha infância. O fato era que eu via meus pais na mesma rotina de sempre de trabalho e preocupação com as contas e não nos permitíamos mais esse respiro da realidade.

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Como digo, essa minha vontade louca de viajar é herança deles que carrego no DNA, que já me colocaram em algumas ciladas por ai. Depois disso, aprendi a carregar as minhas malas sozinha e fiz algumas aventuras sem eles ao meu lado.

Eu tenho a consciência de que não é justo colocá-los em novas saias-justas. Em 2017, queria proporcionar para eles uma viagem com o conforto necessário e para um lugar que eles gostariam de conhecer. Seria uma viagem pra eles!

Meu pai sempre sonhou em conhecer a Serra Gaúcha e, minha mãe, até então, nunca tinha andado de avião. Para que tudo acontecesse sem o mínimo de estresse e novos perrengues, a solução foi procurar aquela agência famosa de viagens de três letras com logo amarelo e azul, sabem?!

Tenho que confessar que, de início, não estava muito animada com a ideia de estar presa a um guia de turismo falando com microfone dentro de um ônibus de turismo para um monte de turistas, passando por vários pontos turísticos. Desculpem-me pelo exagero da repetição da palavra turista e seus derivados, mas eu precisava enfatizar o meu desespero!

Queria mesmo era conversar com as pessoas, entender da tradição e da cultura, parar na estrada pra curtir o visual e ir aos restaurantes indicados por quem mora na cidade. Mas enfim, pelos meus pais eu estava disposta a enfrentar isso.

E assim nós embarcamos! Assim que chegamos ao aeroporto gostei dessa história de ter gente te esperando e te levar numa van confortável para o hotel. Às vezes, pegar um busão até o hostel pode ser bem cansativo!

Lembro que, assim que abrimos a porta do quarto onde ficaríamos hospedados em Gramado, meu pai me disse com um olhar de encantamento: “Nossa Maiara, isso tudo deve ter sido muito caro!”.

Nessa parte, tive que responder, torcendo o braço, e agradecendo ao nosso excelentíssimo presidente por ter liberado os fundos inativos do FGTS. Valeu, Temer!

Tudo tinha sido planejado por mim e nada poderia sair errado (e não saiu). Papai e mamãe passearam em fábricas de chocolates, museus e vinícolas, mas nada deixou tão evidente a felicidade deles, principalmente do meu pai, no passeio que fizemos na Maria Fumaça entre Bento Gonçalves e Carlos Barbosa.

Quem conhece Sr. Fininho sabe que ele só dá abertura para brincar com quem já conhece e olhe lá ainda! Caso contrário, é cara fechada mesmo! Agora imaginem um homem turrão batendo palmas, cantando e até DANÇANDO dentro de um vagão de trem junto com uma descente de italianos!

Foi incrível ver esta felicidade estampada nos seus olhos e no seu sorriso. Dias depois, ele se realizou no jantar em uma churrascaria gaúcha: tomou chimarrão e comeu horrores, para o meu desespero de filha que cuida de um pai hipertenso e diabético. Mas por um dia, eu aliviei a barra!

Ele também não gosta muito de fotos. Quando topa, sempre sai de boca aberta ou não olha para câmera. Enquanto estávamos visitando uma vinícola, ouvi o inacreditável: “Maiara, tira uma foto minha aqui”. Lá fui eu em registrar o momento raro: ele paradinho, todo felizão para foto.

De volta à realidade, foi gostoso ouvir os dois contando as suas impressões para quem perguntava como tinha sido a viagem. Por eles, valeu muito a pena se passar por turistona por uma semana!

A vingança:

Alguns anos se passaram, aniversário do meu pai caiu num feriado prolongado de julho e estava louca para conhecer Cunha. Eles não queriam ficar em casa e isso foi uma ótima desculpa para conhecer a cidadezinha do interior de São Paulo!

 

Mas o que fazer em Cunha? Bem, além do Centro Histórico, das plantações de lavanda, existe a Pedra da Macela, de onde eu cobiçava ver o sol nascer!

Viagem marcada e fui logo dizendo: deixa comigo! 

Aluguei uma casa na Estrada Cunha-Paraty, pertinho da entrada da Estrada da Pedra da Macela. Família instalada, se divertindo no quintal, tomando vinho de frente pra lareira, descansando na rede… que sossego!

Mas eis que chega o ponto da viagem que eu mais esperava: a trilha para a Pedra da Macela! Para isso, no dia 9 de julho, aniversário do meu pai, acordamos às 3h, com uma sensação térmica de 5 graus na serra, nos encapotamos de roupa e começamos a trilha.

Lembram da parte que disse que meu pai é hipertenso e diabético? Pois bem, nessa hora preciso acrescentar que ele também tem problemas na coluna. Então já conseguem entender que a trilha não foi muito fácil, certo?

O percurso que poderia ter sido feito em 30 minutos, durou mais de uma hora. Para meu desespero, o dia começava a clarear e ainda não tinha alcançado o cume da montanha. Eles cansaram, reclamaram, diziam que não iam mais sair comigo que era furada, que aquilo era coisa de louco…

Mas foi só chegarmos ao topo, observar o sol nasceu lá embaixo, na Baía de Paraty, que as reclamações cessaram e eles agradeceram pela aventura. Nos divertimos tanto lá em cima que rolou até “parabéns pra você” a mais de 1.840 metros de altitude.

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