Chaveiros, canetas, colares, brincos, panos de prato, docinhos, camisetas e bonés estão entre as lembrancinhas mais “tradicionais” que os viajantes trazem na mala para a família e amigos, certo? Aqui, porém, a situação vai um pouco mais além e já precisei até comprar uma caixa de isopor para dar conta de trazer as encomendas de Minas Gerais para a minha família.
Sem contar do episódio das panelas de barro capixabas quando precisei driblar a inspeção de bagagens no aeroporto ao tentar trazê-las dentro da bagagem de mão, do dia que quase perdi uma bandeirinha do Papa Francisco comprada pra minha avó dentro de um PUB na Irlanda e por ai vai. As histórias são tantas, que resolvi reuni-las aqui neste post.
Além dos meus pais e a minha avó, na lista de presentes ainda tenho duas tias, um tio, três primas, dois primos, minha madrinha e alguns amigos mais próximos. Não me lembro quando essa tradição começou (também gostaria de saber quem teve a brilhante ideia de trazer presentes de viagens para tanta gente), mas recordo-me que, sempre que alguém chega de viagem, nós reunimos na casa da minha avó para a distribuição dos presentes. Não importava o horário do seu desembarque, ou se alguém passou as últimas horas seguidas atrás de um volante: a cena que se repete é como a troca de presentes do Natal.
Além disso, é claro, conversamos sobre a viagem, os locais visitados, as histórias descobertas e descrevemos as fotos registradas. Não reclamo nenhum pouco de reunir a família nestes momentos, afinal de contas, é sempre muito prazeroso estar com eles e revê-los depois de um tempo fora de casa. Mas, são tantas histórias engraçadas de presentes inusitados que já carreguei que precisam ser compartilhadas agora, sem mais lenga-lenga. Apresentações feitas, vamos à lista:
As panelas capixabas e a fiscalização do aeroporto
O sonho de Dona Giani, mais conhecida como minha mãe, era ter uma legítima panela de barro capixaba. Foi só chegar o anúncio de que havia sido selecionada para um Congresso de Comunicação em Vila Velha, no Espírito Santo, que ela foi logo fazendo a encomenda.
Não saberia como seria a rotina do congresso, estava ansiosa com a minha apresentação e ainda devia achar um tempo de procurar as tais panelas. Ainda bem que, no último dia da viagem, depois da rotina acadêmica de três dias, consegui um tempinho para conhecer Vila Velha e Vitória com meus amigos antes da cerimônia de encerramento e da premiação do tal Congresso.
Foi no Mercado Capixaba, de Vitória que encontrei as panelas. O preço era super atraente e justo com o trabalho das paneleiras. Mas o problema começou quando soube que a minha avó também queria uma panela!
Pois comprei as duas menores que existiam na loja. No hotel, começou a saga para fazer as duas panelas entrassem na mala de mão. Primeira etapa concluída, a segunda, e mais difícil, foi fingir que estava tudo bem e que não estava carregando peso além do permitido na hora de embarcar.
A sorte é que o aeroporto estava cheio no final da tarde daquele domingo, com a quantidade de estudantes de todos os cantos da região sudeste voltando para suas casas e, com isso, a fiscalização não foi tão rigorosa.
Ainda assim, precisei me esconder entre meus amigos para que aquela mala de mão não chamasse atenção e caminhei plena até a aeronave com aquele peso todo! Só que não.
Palmitos (calma, legalizados!)
Dona Giani (sempre ela) gosta muito de palmitos. A extração do palmito Jussara segue rigorosos procedimentos para evitar a extinção da espécie. Em algumas áreas, porém, onde há o manejo sustentável é possível encontrar o palmito para a venda.
A região próxima da Caverna do Diabo, no sul do estado de São Paulo, é uma delas. Sabendo disso, minha mãe foi logo fazendo sua encomenda quando soube da minha ida para Eldorado.
Além de pensar onde iria encontrar o palmito e tempo para isso comprá-lo, já que estava viajando com um grupo de excursão, o problema seria a logística para fazer o palmito chegar até em casa.
O desembarque da excursão aconteceu na região da Barra Funda, em São Paulo, e, de lá, eu precisei encarar uma via-sacra entre trens, metrôs e ônibus até chegar em casa, na cidade de Mogi das Cruzes. Isso com a mochila da excursão e os palmitos em mãos!
Além do cansaço, somou-se os pesos dos tais palmitos numa viagem que durou quase duas horas de transporte público. A sorte é que mãezinha ficou tão feliz com a encomenda que foi me buscar na rodoviária de Mogi e economizei uma viagem de ônibus =)
Imagens de Santos e Orixás
Durante o intercâmbio na Irlanda, tive alguns finais de semana livres para viajar para alguns países da Europa. Um deles era quase “obrigatório” a visita: Portugal. O motivo? Visitar o Santuário de Nossa Senhora de Fátima e trazer imagens da santinha para a família.
Sabendo da missão, já sai do Brasil com uma mala extra guardada para poder transportar as imagens. De fato, foi um momento especial visitar o local onde teriam acontecido as aparições de Fátima e também o vilarejo onde nasceram e cresceram as crianças que presenciaram os milagres.
Depois de visitar muitas lojas, ver os diferentes modelos de imagens, sai de lá com 4 santinhas e tentando não fazer a conversão do preço. Na mala ainda vieram panos de prato com os tradicionais bordados de Braga e um pacote com mais dez terços de Fátima.
Lembro que Dona Giani (olha ela mais uma vez aqui) ficou tão ansiosa com o presente que fez uma chamada de vídeo para ver as santinhas. O momento foi tão especial e significativo para a família que nem reclamei de ter que desfazer a mala e encaixar novamente as caixas na mala depois da conversa.
Mas não só de imagens de santos católicos vive as malas de Maiara: de Salvador, trouxe uma imagem de Iemanjá para minha tia.
O interessante da compra feita numa lojinha próximo da Basílica do Senhor do Bonfim foi observar o sincretismo religioso da Bahia.
Em poucos metros quadrados, dentro da loja se via terços, ao lado de orixás e utensílios para os rituais da umbanda e do candomblé. Prova de que, com respeito, é possível viver em harmonia!
Atendendo pedido de grávida
Foi durante a viagem pela Costa do Descobrimento, no Sul da Bahia, com meus pais, que recebi um pedido inusitado. Grasi, amiga que comanda o blog Tá na Minha Rota, estava grávida e viu os stories que compartilhei fotos das famosas cocadas de Porto Seguro. Na mensagem, ela disse que tinha ficado com vontade e com água na boca ao ver as cocadas de diferentes sabores, expostas no tacho.
O problema, dessa vez, é que os stories foram postados depois que eu tinha saído da feira onde as cocadas eram vendidas e, quando recebi a sua mensagem, já era tarde para voltar até lá. Mas vontade de grávida é coisa séria e, por isso, voltei no dia seguinte para comprar as cocadas na Passarela do Álcool.
Acontece que naquela noite chovia um pouco e a doceira que produzia as cocadas não tinha ido para feira. Aquele era o último dia em Porto Seguro, já que na manhã seguinte iríamos passar mais alguns dias em Arraial d´Ajuda.
Tive a esperança de encontrar cocadas do outro lado do rio, mas nada de cocadas em Arraial. O jeito foi voltar mais cedo para Porto Seguro no último dia da viagem, antes do embarque para São Paulo. Tinha o telefone de um motorista de aplicativo muito simpático de lá que nos levou até o Centro Histórico de Porto Seguro. Lá comprei cocadas mais deliciosas ainda do que as que são vendidas durante a noite na Passarela do Álcool.
O pedido foi uma ótima desculpa para rever a amiga e conversar muito sobre viagens!
Bandeirinha do Papa Francisco e um quase incêndio dentro de um PUB irlandês
Durante o intercâmbio em Dublin, o Papa Francisco resolveu fazer uma visitinha na capital da Irlanda. Os festejos e as cerimônias, em si, não pude acompanhar.
Mas a presença do Papa trouxe novos ares para as ruas, todas enfeitadas com bandeirinhas nas cores branca e amarela do Vaticano.
Dona Luzia, minha avó, já estava com a sua lembrancinha garantida, mas quando vi uma bandeira do Papa por 4 euros na rua, não aguentei e comprei pra ela, que tanto me perguntava do Papa naqueles dias. Depois da compra na barraquinha, fui para a aula e, de lá, tradicionalmente fui para o PUB com os colegas do curso.
Acontece que a bandeira não cabia totalmente dentro da minha mochila e os colegas viram a haste da bandeira pendurada e resolveram puxá-la para fora. O que começou com a brincadeira dos italianos em balançar a bandeira dentro do PUB se tornou quase um princípio de incêndio!
Um dos garçons do PUB era contra a Igreja Católica e a presença do Papa. Por isso, ele se revoltou com a imagem do pontífice ali dentro – o que, de fato, não condizia com o ambiente. Quando dei por mim, vi que já estava sobre o balcão do bar resgatando a bandeirinha de suas mãos, antes que ele botasse fogo com um isqueiro.
O meu ato hoje percebo que não foi tanto pelo presente para a minha avó, afinal haviam centenas de bandeirinhas como aquela pelas ruas de Dublin. Mas elas custavam 4 euros, o que daria mais de R$ 16 reais queimados à toa!
O peso dos quitutes mineiros e mais uma panela que não consegui carregar
No final do ano de 2015 viajei com dois amigos para o sul de Minas Gerais. No roteiro, estava a ainda desconhecida Capitólio e outras cidades como Guaxupé, Carmo de Minas e Passos.
Na região existe o comércio de panelas de ferro e, não sei como, Dona Giani (minha mãe, sempre ela) soube disso e me encomendou uma. Apesar deste modelo ser mais pesado que as duas panelas de barro do Espírito Santo juntas, não via problema, já que fazia a viagem de carro.
Durante a estadia em Bom Jesus da Penha aproveitei para comprar pó de café e muitas peças de queijo meia cura. Estava tão realizada entre aquelas delícias que esqueci que a viagem de volta seria sozinha e de ônibus.
A cada cidade que visitávamos a mala só aumentava: doce de leite, pão de queijo, biscoitos, artesanatos e assim por diante. Naquele dia comprei tanto queijo que precisei comprar um isopor para carregá-los.
Os potes de doce de leite e os pacotes de café e pão de queijo consegui colocar dentro da mala. Mas ainda havia a panela pesada!
Para entrar no ônibus com a tralha toda tive a ajuda dos meus amigos. Já na chegada na Rodoviária do Tietê, em São Paulo, minha família não conseguia encontrar a plataforma onde desembarquei e precisei fazer contorcionismo para conseguir carregar tudo.
Até encontrá-los foram inúmeras paradas no caminho para ajeitar as coisas.
Foi cansativo, doeu o peso, mas o café da tarde preparado na casa da minha avó com todas aquelas delícias que eu trouxe recompensou.
Escambo de doce de leite e café na Bahia
Essa história até hoje é confusa para muita gente, mas vou tentar explicá-la mais uma vez: no final de 2019, Érick, meu amigo da Bahia veio visitar São Paulo. Antes disso, sabendo da minha viagem para Belo Horizonte para o Prêmio Nacional do Turismo, do Ministério do Turismo, ele me encomendou um doce de leite de lá.
Ok. Doce comprado em BH e o plano era entregar a encomenda quando encontrasse o amigo em SP. Isso teria acontecido se não tivesse esquecido, por duas vezes, de levar o doce nas vezes em que encontrei com Érick em SP.
Acalmei o menino e disse que levaria o doce em janeiro de 2020 para ele, quando visitaria Salvador. Erick aceitou a proposta e eu lhe fiz um pedido: Gabriel, nosso amigo em comum, estava com vontade de provar um café produzido nas fazendas paulistas. Eu havia comprado o presente de Gabriel (que também mora em Salvador) e pedi que Érick levasse o tal café. A intenção era encontrar com os dois em Salvador e fazer a troca dos presentes.
Quem conhece Érick sabe que o bichinho é turrão é reclamão, mas concordou em levar o café quando expliquei que estaria com uma mala grande, além de barraca e saco de dormir, já que iria acampar naquela virada de ano e seguiria direto pra Bahia.
O que Érick não sabe até hoje (e espero que não leia esse post nunca na vida) é que esqueci o seu doce de leite pela terceira vez! Me dei conta que o doce tinha ficado em casa quando aterrissei em Salvador. Cheguei até a calcular o frete do pacote de SP para Salvador, mas o preço estava fora de cogitação. Cheguei a falar com uma amiga de SP que iria pra Salvador em março para que ela levasse a encomenda, mas achei arriscado.
Afinal, como iria encontrar com Érick, de mãos vazias, para buscar o presente (o café) de Gabriel? O jeito foi caçar o tal doce de leite Viçosa em terras soterapolitanas!
Graças ao pai de Gabriel (percebam que botei mais uma pessoa no rolo) encontramos o doce de leite especial em um mercado da própria capital da Bahia. Érick comeu feito criança feliz o doce que acredita ter vindo de Belo Horizonte, mas, mal sabe que ele já chegou nos mercados da sua cidade.
Corrida para compra de uma toalha de renda
Ao longo de mais de 20 dias pelo Maranhão visitei diversas cidades e, uma delas, chama-se Raposa. Dona Giani, que ao chegar no final desse post concluo que poderia trabalhar como guia de turismo, por conhecer dos atrativos de cada lugar que viajo antes de mim, soube da fama das rendeiras de birlo e soltou a sua clássica frase: “Meu sonho sempre foi ter uma colcha dessas”.
Depois de descer de um ônibus, logo encontrei o famoso Corredor das Rendeiras em Raposa. São mulheres que estão ali há gerações, tecendo lindos trabalhos com as mãos.
Eu, que gosto de conhecer o trabalho de artesãos locais, valorizo o preço cobrado pelas colchas em Raposa, afinal de contas, leva-se meses para que uma peça esteja pronta. Os R$ 400, porém, não cabiam no meu orçamento naquele mochilão.
Expliquei a situação para Dona Giani e concordamos que ela ganharia de presente um caminho de mesa, uma toalha mais estreita. Ao longo daquele dia, entrei em quase todas as lojas do Corredor das Rendeiras conferindo os preços e modelos.
A intenção era almoçar e, na volta, comprar o presente. Por problemas de atraso técnico (e ai cada um use sua imaginação para compreender o que essa mensagem significa) perdi a hora e sai do restaurante quase 16h30, quando a dona avisou que as lojas fechariam às 17h. Além da preocupação de encontrar as lojas fechadas, o desespero fez com que eu não lembrasse em qual loja estava o caminho de mesa que mais tinha gostado.
Depois de passos acelerados e forçando a mente, lembrei da lojinha e lá estava ela aberta ainda. As senhoras, que vivem a mais pura tranquilidade naquela comunidade à beira-mar, até se assustaram quando entrei correndo na loja com respiração ofegante de preocupação.
Fôlego recuperado, toalha garantida, era hora de pegar o ônibus de volta para São Luis, já que o presente de Dia das Mães daquele ano estava garantido. Dona Giani ficou tão feliz que cogitou até usar a toalha como lenço no pescoço! rs
Rede
Um aprendizado dessa vida de viajante em busca de presentes de viagens é: viu, gostou, comprou! Pesquise os preços sim, mas naquele mesmo dia. Não deixe para comprar depois porque você pode não achar aquele modelo, aquela cor de sua preferência.
Foi assim que Dona Giani (êêê mãããeee!) ficou sem uma bendita rede azul em Porto Seguro. Minha mãe é bem contida para as compras: ficou namorando a rede por dias, passava na loja, olhava para a rede, sentia o seu tecido e sonhava como ela ficaria pendurada na sala de casa e tudo mais.
Pensou, pensou tanto em comprar que, no dia que resolveu buscar a rede, a loja estava fechada. Eu, que estava levemente irritada com a situação lhe disse: Agora a gente vai achar uma outra rede e você vai comprar!
Numa manhã de domingo, depois de uma noite chuvosa, poucas lojas ainda estavam abertas próximo da Passarela do Álcool. Perguntei para um aqui, outro ali e achei uma loja aberta que tinha redes para vender.
Dona Giani ficou olhando, escolhendo e querendo deixar de lado a história da rede. Por já ter vivido episódios parecidos com ela (como quando ela se apaixonou por uma bolsa em Gramado e no dia que voltou a loja também estava fechada) insisti para que ela comprasse logo a rede.
Ufa, rede comprada, família feliz hoje em dia com o local de descanso e nem lembramos do sacrifício que foi fazer com que ela coubesse na bagagem de mão.
Apesar dos presentes inusitados dessa lista, deu pra perceber que somos mão de vaca e raramente pagamos pelo despacho de bagagem, não?
Moral da História
Antes de encerrar, para ninguém achar que a minha família é louca, também temos hábitos normais de viajantes. Minha Tia Marisa, por exemplo, coleciona imãs de geladeira e vocês não tem noção do orgulho que sinto quando relembro dos lugares que já visitei através dos imãs que ficam na porta da geladeira.
Minha madrinha é fácil de acertar na sua lembrancinha também: ela coleciona pratos e já tem alguns presentes meus na sua parede também.
Por fim, porém não menos importante, o ideal é sempre valorizar o artesanato local na hora de presentear quem a gente gosta. Invista em acessórios e itens de decoração que representem a cultura local e que você saiba que haverá um retorno direto para as comunidades que o produziram. Além de agradar sua família e amigos, assim, você estará sendo um viajante consciente!
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